sábado, 16 de julho de 2011

"Interpretes da vida" - João Guimarães Rosa

“(...) Eu não sei quase nada, mas desconfio de muita coisa..".(João Guimarães Rosa In: Grande Sertão: Veredas)

Considerado como um dos melhores romancistas da terceira geração modernista brasileira juntamente com Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto. João Guimarães Rosa com sua singularidade e várias peculiaridades principalmente ao compor seus cenários e personagens, encanta com sua escrita simplista e sua criatividade ao comparar sentimentos com o abstrato, paisagens e até mesmo ao criar palavras, dotado de uma licença poética e uma grande capacidade de alcançar o imaginário de seus leitores, onde tem a capacidade de nos fazer sonhar e desbravar o mundo novo que seus livros nos fazem percorrer. E que prazer ter essa possibilidade em nossas mãos, em forma de livro. Imortalizado em 1963 eleito por unanimidade na Academia Brasileira de Letras, seria indicado ao Nobel, e recebeu inúmeros prêmios merecidamente. O autor em minha opinião mais inovador da nossa lingua,  brinca com as palavras e suas significações, com a ultilização dos neologismos e tempos verbais, ao mesmo tempo expõem seus personagens como pessoas simples. Guimarães Rosa misturava palavras que hoje nos faz saborear.

Alguns dos meus trechos favoritos de suas Obras:
  • "Coração cresce de todo lado. Coração vige feito riacho colominhando por entre serras e varjas, matas e campinas. Coração mistura amores. Tudo cabe.(...)"
    (João Guimarães Rosa, in Grande Sertão: Veredas)
  • "Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.(...)"
    (João Guimarães Rosa, in Grande Sertão: Veredas)
  • "Mãe, que é que é o mar, Mãe?" Mar era longe, muito longe dali, espécie duma lagoa enorme, um mundo d'água sem fim, Mãe mesma nunca tinha avistado o mar, suspirava. — "Pois, Mãe, então mar é o que a gente tem saudade?"(...)"
    (João Guimarães Rosa, in Manuelzão e Miguilim)
  • "(...)Cada um podia viver como queria, fazer o que haja, com o tempo tudo era igual, todo o mundo se acostumava. Trabalhar ou não, a gente nasce para o que faz. Cada um é um. Tudo se podia."
    (João Guimarães Rosa, in Manuelzão e Miguilim)
  • "(...)falava com cada pessoa como se ela fosse uma, diferente; mas que gostava de todas, como se todas fossem iguais."
    (João Guimarães Rosa, in Manuelzão e Miguilim)
  • "Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Diga o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar por longe, e eu só nele pensava. E eu mesmo não entendia então o que aquilo era? Sei que sim. Mas não. E eu mesmo entender não queria. Acho que. Aquela meiguice, desigual que ele sabia esconder o mais de sempre. E em mim a vontade de chegar todo próximo, quase uma ânsia de sentir o cheiro do corpo dele, dos braços, que às vezes adivinhei insensatamente – tentação dessa eu espairecia, aí rijo comigo renegava.(...)"
    (João Guimarães Rosa, in Grande Sertão: Veredas)
  • “Tivesse medo? O mundo da confusão das coisas, no mover desses futuros, que tudo é desordem. E, enquanto houver no mundo um vivente medroso, um menino tremor, todos perigam - o contagioso. Mas ninguém tem a licença de fazer medo nos outros, ninguém tenha. O maior direito que é meu - o que quero e sobrequero - é que ninguém tem o direito de fazer medo em mim”
    (João Guimarães Rosa, in Grande Sertão: Veredas)
  • Separação inexiste, se há força de amor e fé.
    Sentir saudade é trazer, mais perto ainda, tudo que a gente pensa perdido.
     Saudadear, dizia ele...
    (Guimarães Rosa, do conto "Nenhum, nenhuma", primeiras estórias)
  • "Amar é a gente querer se abraçar com um pássaro que voa.(...)"
    (João Guimarães Rosa, in Ave, Palavra)
  • O mais importante e bonito do mundo é isto;
    que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram
    terminadas, mas que elas vão sempre mudando.
    Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou.”
    (João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas)