terça-feira, 24 de maio de 2011

Conservava em mim velhas fantasias, datadas da infância, e nelas todas a ternura que havia em meu coração. (Marcel Proust)

"Respiro a única felicidade que sou capaz - uma consciência atenciosa e cordial. Passeio o dia todo(...) cada ser que encontro, cada cheiro dessa rua, tudo é pretexto para amar sem medida. Jovens mulheres supervisionam uma colônia de férias, a trombeta do vendedor de sorvetes, as barracas de frutas, melancias vermelhas com caroços negros, uvas translúcidas e meladas - tantos apoios para quem não sabe ser só. Mas a flauta ácida e terna das cigarras, o perfume de águas e de estrelas que se encontram nas noites de setembro, os caminhos aromáticos entre as árvores de pistache e os juncos. tantos sinais de amor para quem é forçado a ser só."

domingo, 22 de maio de 2011

No nosso mundo só toca Beirut, todo lugar é Paris, todos os abraços são em ti.

"Você não existe. Eu não existo. Mas estou tão poderoso na minha sede que inventei a você para matar a minha sede imensa. você está tão forte na sua fragilidade que inventou a mim para matar a sua sede exata. nós nos inventamos um ao outro porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo. E porque nos inventamos um ao outro, porque éramos tudo o que precisávamos, para continuar vivendo. E porque nos inventamos, eu te confiro poder sobre o meu destino e você me confere poder sobre o teu destino. Você me dá seu futuro, eu te ofereço meu passado. Então e assim, somos presente, passado e futuro. tempo infinito num só, esse é o eterno."

[Caio Fernando Abreu. O rapaz Mais triste do Mundo, de "Os Dragões não Conhecem o Paraíso"]

sexta-feira, 20 de maio de 2011

"Todo dia é precioso e raro e deve ser manuseado com cuidado: Contém emoções..." - Vanessa Leonardi

"Cresci, amadureci, aprendi, me cansei, parei de definir meu humor pelas atitudes “dele”, seja lá quem for o “ele”. Se ele ligou, apareceu, me amou, voltou, ótimo! Se não, o sol brilha tanto lá fora, o céu tá tão azul e a vida tão divertida que não vale a pena lamentar. Troquei o “foi assim” pelo “eu quis assim”, deixei tudo que me causava dor, fiz meu próprio caminho e só trouxe comigo o que me faz bem. Descobri que amor é diferente dessas vontades efêmeras que eu andei tendo, que ser feliz é mais facil do que pensamos, que um sorriso vale muito e que tudo que nós precisamos é de amor. E se eu já era livre agora pretendo ir ainda mais longe, mais alto, mais além. E eu não vou parar de subir ou pra ver o que ficou embaixo, não vou descer tão cedo... Eu joguei fora essa idéia de ter que ser sozinha. Eu passei muito tempo da minha vida depositando minha felicidade em mãos erradas, eu finalmente entendi que ela só pertence a mim. Infelizmente eu não posso colocar aqui o sorriso que eu ando desfilando ultimamente, mas podem ter certeza de que é o meu melhor. Por que vida é pilantra, o mundo cruel, o amor é complicado, mas eu tô bem demais."

(Denyse Barrêto)



segunda-feira, 16 de maio de 2011

Há livros que me descobrem tão intimamente que evito contar aos outros que os li. Dizer ‘eu li o livro x’ é para mim mais assustador do que nomear quem se deitou comigo ontem.

Disseste-me que lias Simone de Beauvoir na última confissão, e que os livros nos escolhem quando sentem que estamos preparados para escutá-los. Eu sinto isso, sinto que me chamam da prateleira da estante e me vão contando segredos, histórias, vidas que eu não conheço. Mas os livros que me surpreendem são aqueles que me descobrem, aqueles que viajam bem dentro dos meus próprios segredos… aqueles livros que soletram as palavras que tenho medo de dizer a mim próprio. É um misto de êxtase e pavor quando livros assim me ardem nas mãos. Há com eles um reencontro, a sensação que uma sensibilidade parecida existiu ou existe, como que para aliviar a nossa solidão… como que para anular a nossa diferença e afugentar o medo de existirmos duma forma que nos assusta. Por outro lado cresce uma vontade de não voltar a tocá-los, de não voltar a lê-los. Tornam-se objetos incrivelmente poderosos, uma espécie de espelhos imutáveis e irreversíveis, duros e frios como o confronto inesperado com a verdade. É provável que Sartre tenha sentido o mesmo ao ler Beauvoir, é provável que o mesmo pânico lhe tenha crescido ao reler a sua própria obra. Não sei porquê, mas tenho um pressentimento de que Sartre nunca voltou a ler um dos seus livros, exatamente pelo impacto forte e severo do encontro com esse espelho – não há coisa mais cruel do que ser-se responsável por si próprio. O desajuste entre a sua obra e a sua vida parece-me argumento suficiente para justificar o meu pressentimento. Qual seria a opinião de Beauvoir sobre o assunto?

(Vítor Leal de Barros)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

“Não existe arte que ensine a ler no rosto as feições da alma”

"Ela está em tal conjunção com minha alma e minha vida. Que, como uma estrela presa à sua órbita, Eu só sei me mover em torno dela..." (Shakespeare In: Hamlet)
Em todas as histórias e romances que eu pudesse ter lido, que eu pudesse ter ouvido, a trajetória de um amor verdadeiro nunca transcorreu em caminhos suaves (Shakespeare In: Sonho de Uma noite de Verão)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Éramos amigos, e, no entanto que poderíamos dar um ao outro? Senão reconhecermo-nos.

"Nessa comunicação o ser era ajudado pelo seu dom inato de gostar. E isso nem juntara nem escolhera, era um dom mesmo. Gostava da profunda alegria dos outros, por dom inato descobria a alegria dos outros. Por dom, era também capaz de descobrir a solidão que os outros tinham em relação à própria alegria mais profunda. O ser, também por dom, sabia brincar. E por nascença sabia que gestos, sem ferir com o escândalo, transmitiam o gosto que sentia pelos outros. Sem mesmo sentir que usava o seu dom, o ser se manifestava; dava, sem perceber quando dava, amava sem perceber que a isso chamavam amor."

(Clarice Lispector In: PERFIL DE SERES ELEITOS - pág. 173)