sexta-feira, 6 de maio de 2011

Éramos amigos, e, no entanto que poderíamos dar um ao outro? Senão reconhecermo-nos.

"Nessa comunicação o ser era ajudado pelo seu dom inato de gostar. E isso nem juntara nem escolhera, era um dom mesmo. Gostava da profunda alegria dos outros, por dom inato descobria a alegria dos outros. Por dom, era também capaz de descobrir a solidão que os outros tinham em relação à própria alegria mais profunda. O ser, também por dom, sabia brincar. E por nascença sabia que gestos, sem ferir com o escândalo, transmitiam o gosto que sentia pelos outros. Sem mesmo sentir que usava o seu dom, o ser se manifestava; dava, sem perceber quando dava, amava sem perceber que a isso chamavam amor."

(Clarice Lispector In: PERFIL DE SERES ELEITOS - pág. 173)